7/27/2011

SESSÃO 90

::: SESSÃO ESPECIAL :::

A FELICIDADE (1934), de Aleksandr Medvedkin


[sessão acompanhada ao vivo pelo agrupamento de improvisação livre constituído por Ernesto Rodrigues (viola de arco), Gianna de Toni (contrabaixo), Luís Couto (Guitarra eléctrica), Ricardo Reis (percussão) e Biaggio Volandri (objectos amplificados).]

FELICIDADE é um conto tradicional russo estilizado acerca do pobre e preguiçoso camponês Khmyr, que sonha ser czar enquanto come a sua ração de toucinho e não faz nada — a sua ideia de felicidade — e da sua laboriosa mulher Anna que encontra a felicidade com a Revolução, trabalhando numa quinta colectiva.

Visualmente muito inventivo, o filme contém cenários desenhados a partir de gravuras populares russas, cenas cómicas e pormenores dos "sonhos" e "repastos reais" de Khmyr, a quem as autoridades apenas dão atenção quando este, abusado e enganado por padres, mercadores e cobradores de impostos, se tenta matar: "Se o camponês morre, quem alimentará a Rússia?"



Hoje, pelas 21h30, no Cine Solmar.

7/25/2011

SESSÃO 89

::: DOCUMENTÁRIOS COM ARTE :::

ANTÓNIO SENA: A MÃO ESQUIVA (2009), de Jorge Silva Melo


António Sena expõe desde 1964. Pintor discreto e esquivo, é autor de uma das obras mais consistentes da arte portuguesa contemporânea.

Serralves realizou em 2003 uma extraordinária exposição-retrospectiva de António Sena.

Eu não o conhecia pessoalmente, nunca o vira; mas conhecia-lhe grande parte da obra discreta, intensa, original.

Sentados à mesma mesa na noite do jantar da inauguração surgiu a ideia de virmos a fazer um documentário sobre o seu trabalho: não um documentário exaustivo, histórico, retrospectivo, mas uma maneira de ver a transformação das formas no tempo.
E fomos filmando: entre 2003 e 2009, na preparação da exposição "
Books=Cahiers" que inaugurou na Fundação Vieira da Silva em Julho de 2009.

O que me interessou foi filmar-lhe "a incessante mão", a mão que escrevinha, rasura, escreve, acrescenta, pinta e apaga ou pinta e inscreve.

Ou a mão que comenta, sublinha, se lembra.

A mão de Maria Filomena Molder que pensa.
Incessantemente.

Para "salvar a biblioteca do incêndio", na bela formulação de João Lima Pinharanda.


Jorge Silva Melo

Hoje, pelas 21h30, no Cine Solmar.

7/19/2011

SESSÃO 88

::: FILMES CURTOS E LONGAS CONVERSAS — 3 CURTAS DE SAGUENAIL :::

. ANTES DE AMANHÃ (2001): Antes de Amanhã, tão-só o pequeno abismo de uma noite. Os corpos, sempre outros, buscam o lugar que lhes resta, depois de varridos pelo verbo asfixiante das imagens.
Talvez amanhã não seja apenas mais um dia.

. MAU DIA (2006): Num "café algures", a história parte de "uma mulher silenciosa" que se encontra "frente a um homem que não diz palavra, cujo rosto endurecido lhe devolve a mágoa como um espelho de carne". Neste ambiente, onde "só o céu derrama ininterruptas lágrimas", gira "um esboço de canção de amores desavindos e moribundos que não consegue encontrar a sua melodia". De repente, o homem "eclipsa-se" e a mulher "fica só, como porventura nunca deixou de estar".
Para esta curta-metragem, "produto da sua imortal doença", contou com "os seus cúmplices" João Alves, Ana Deus e Becas.

. PAS PERDU (2008): Noite cerrada. Numa cidade algures, uma mulher errante, agrilhoada a uma mala. Parece procurar alguma coisa. Parece andar fugida de alguém. Mas as paredes têm olhos e a noite tem bocas. E becos sem saída...

Com a presença de Saguenail e Regina Guimarães.

Hoje, pelas 21h30, no Cine Solmar.

BANKSY — PINTA A PAREDE! — O Dia Seguinte


BANKSY — PINTA A PAREDE! apresenta-nos Thierry Guetta, um excêntrico, irrequieto e quase histriónico cidadão francês radicado em Los Angeles, que de cineasta amador e inepto transformou-se em nome de referência para o mercado da arte pop inspirada pela street art. A descrição dessa meteórica ascensão serve de propósito à primeira incursão do estilo artístico corrosivo de Banksy na Sétima Arte, num dinâmico documentário de ambígua veracidade e garantida satisfação, que nos permite aceder ao "coração" da arte urbana, forma artística caracterizada pela decoração das cidades com graffitis e stencils recheados de mensagens política e socialmente conscientes.

Na verdade, a questão em torno da autenticidade dos factos apresentados neste filme possui o mesmo efeito da aparição do elefante pintado de cor-de-rosa durante uma das exposições de Banksy nos EUA: o de "forçar" a nossa atenção para o que se encontra à superfície, menosprezando o cerne das reais intenções de BANKSY — PINTA A PAREDE! O «primeiro filme desastre sobre arte urbana» (tal como foi comercializado) revela-se poderoso no escrutínio gerado em torno da transformação da obra criativa em objecto com código de barras e de valor aleatoriamente determinado, assim como a atitude dos que gastam fortunas para adquirir essa suposta manifestação artística.

Mas se, de facto, o percurso de Thierry Guetta for totalmente inventado para auxiliar as intenções de Banksy — tão subversivas e mediáticas quanto um dos seus stencils —, então estaremos perante um dos mais bem conseguidos ardis audiovisuais (e artísticos?) deste princípio de século. A sua resolução pode não suscitar grande consideração mas, pelo poder de entretenimento aqui reunido, a mensagem perdurará na mente do espectador durante muito tempo.

Samuel Andrade.

Nota: este texto reflecte apenas a opinião do autor, não representando a visão geral do 9500 Cineclube.

7/18/2011

SESSÃO 87

::: DOCUMENTÁRIOS COM ARTE :::

BANKSY — PINTA A PAREDE, de Banksy


Um francês radicado em Los Angeles decide filmar o mundo secreto dos "vândalos" dos graffiti para um documentário. Ao longo de mais de oito anos acompanha diferentes artistas pelos Estados Unidos e Europa, até que conhece Banksy e o rumo do seu projecto é completamente alterado.

O resultado é um filme de Banksy sobre esta história e sobre a arte do graffiti e a street culture.

Banksy diz que "basicamente, é a história de como um homem se decidiu a filmar o ‘infilmável’, e falhou", mas o filme vai mais longe, ao reflectir sobre o próprio conceito de arte e a sua natureza, validade e limitações.



Hoje, pelas 21h30, no Cine Solmar.

7/13/2011

SESSÃO 85

::: DOCUMENTÁRIOS COM ARTE :::

LH: SABER DEMORA, de João Trabulo


Um olhar sobre a obra de Fernando Lanhas, mostrando o seu percurso biográfico e artístico do multiartista, dando a conhecer aspectos da sua obra tão rica quanto diversificada.

A película acompanha momentos de montagem de uma exposição do pintor na Casa de Serralves, ao mesmo tempo que mostra o lado desconcertante de um dos mais geniais artistas do nosso tempo.

Em parceria com o IAC (Instituto Açoriano de Cultura) e com o apoio Periferia Filmes.

Hoje, pelas 21h30, no Cine Solmar.

7/12/2011

LIXO EXTRAORDINÁRIO — O Dia Seguinte


Vik Muniz, no auge de fortuna e popularidade internacionais enquanto artista plástico, decide conhecer em primeira mão o Jardim Gramacho, um dos maiores aterros sanitários do mundo, localizado no Rio de Janeiro. Durante dois anos, trava conhecimento com sete "catadores" de material reciclável e inspira-se nas suas vidas para uma exposição fotográfica solidária.

Se as noções de arte socialmente consciente ou concepção de obras feitas de materiais inteiramente correlacionados com o assunto retratado não se revelam propriamente inusitadas, já a enumeração de case studies dessas realidades parece ser mais difícil. É por isso que LIXO EXTRAORDINÁRIO apresenta-se fresco e revolucionário na sua concretização, que aborda vários aspectos — do processo criativo de Muniz até à franca descrição da (inexistente?) condição social do "catador" — sem se concentrar exclusivamente em nenhum deles, logrando expor, com sucesso, a essência de cada um.

Humanista, emocional e, por vezes, arrebatador, a realizadora Lucy Walker assina um documentário estética e visualmente impressionante (destaque para algumas imagens recolhidas no Jardim Gramacho), infundido da imortal mensagem «o teu destino é por ti escrito» mas que, na parte final, não evita cair num certo dramatismo "fácil". Nada que afecte o poder das intenções de um dos melhores filmes documentais sobre arte produzidos em 2010.

Samuel Andrade.

Nota: este texto reflecte apenas a opinião do autor, não representando a visão geral do 9500 Cineclube.

7/11/2011

SESSÃO 84

::: SESSÃO ESPECIAL :::

LIXO EXTRAORDINÁRIO, de Lucy Walker


Filmado ao longo de dois anos (Agosto de 2007 a Maio de 2009), LIXO EXTRAORDINÁRIO acompanha o trabalho do artista plástico Vik Muniz em um dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro. Lá, ele fotografa um grupo de catadores de materiais recicláveis, com o objectivo inicial de retratá-los.

No entanto, o trabalho com esses personagens revela a dignidade e o desespero que enfrentam quando sugeridos a reimaginar suas vidas fora daquele ambiente. A equipe tem acesso a todo o processo e, no final, revela o poder transformador da arte e da alquimia do espírito humano.



Hoje, pelas 21h30, no Cine Solmar.

7/10/2011

SESSÃO 83

::: SESSÃO ESPECIAL :::

SIGNIFICADO — A MÚSICA PORTUGUESA SE GOSTASSE DELA PRÓPRIA, de Tiago Pereira



Com os 15 anos d’Orfeu como mote, é criativamente que a Associação celebra a efeméride, com uma obra dupla:
"Contexto", o livro escrito por António Pires e que nos transporta até às origens de uma associação artística que abriu novos caminhos culturais a Águeda, e SIGNIFICADO — A MÚSICA PORTUGUESA SE GOSTASSE DELA PRÓPRIA, realizado por Tiago Pereira, um testemunho visual de contextualização contemporânea das tradições musicais que, mais que enaltecimento gratuito, antes faz o ponto de equilíbrio entre a história da própria associação e o retrato da sua posição, hoje, no meio cultural.



Hoje, pelas 21h30, no Cine Solmar.

7/06/2011

ANA VIEIRA: E O QUE NÃO É VISTO — O Dia Seguinte



A propósito da exposição Muros de Abrigo, que proponha uma retrospectiva da carreira de Ana Vieira, Jorge Silva Melo assinou este documentário, intrinsecamente televisivo, cuja realização nunca pretende soçobrar a visão da entrevistada, pois são as experiências proporcionadas pela sua obra que realmente dão vida ao filme.

As obsessões, aspirações e concretizações artísticas de Ana Vieira são, aqui, competentemente explicadas pela própria criadora, registada pela câmara de um modo quase tão fugidio quanto as suas instalações que "brincam" com sombras e espaços, permitindo assim a compreensão, por parte do espectador menos familiarizado, de um dos mais singulares percursos criativos portugueses da actualidade.

ANA VIEIRA: E O QUE NÃO É VISTO recusa, contudo, entrar na intimidade pessoal da criadora — a referência a esse facto não é sinónimo de defeito — ficando apenas manifesto a obra artística. Porque aquilo "que não é visto", muitas das vezes, suscita uma maior e satisfatória curiosidade...

Samuel Andrade.

Nota: este texto reflecte apenas a opinião do autor, não representando a visão geral do 9500 Cineclube.

7/04/2011

SESSÃO 82

::: CICLO ARTES PLÁSTICAS :::

ANA VIEIRA: E O QUE NÃO É VISTO, de Jorge Silva Melo



É insólito o lugar de Ana Vieira na arte portuguesa: trabalhando o rasto, a sombra, a passagem da luz (ou dos corpos?), o reflexo, a sobreposição, a pegada, a memória ou a planificação do futuro, a sua arte raia o invisível. E questiona o lugar da arte - e do espectador, colocado sempre "de fora" ou com a consciência do "off".

Hoje, pelas 21h30, no Cine Solmar.

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