5/03/2011

A CIDADE DOS MORTOS — O Dia Seguinte


Não é difícil apelidar o registo filmado do quotidiano de uma “cidade” que se formou no interior de uma necrópole do Cairo como irresistível. E o realizador não esconde o seu fascínio por este microcosmos onde, como em qualquer urbe dita vulgar, as pessoas amam, rezam, consomem, aspiram, discutem, brincam e, numa circunstância inevitavelmente derivada do seu contexto geográfico, planeiam a construção do próprio túmulo.

Esse mesmo fascínio é partilhado com o espectador pelos testemunhos e convivência diária dos habitantes da Cidade dos Mortos captados pela câmara de Sérgio Tréfaut, através da exibição de uma série de situações que oscilam entre o enternecimento, o inusitado e o burlesco — o teatro de fantoches que “chega à cidade” ou as tácticas de engate engendradas por três jovens egípcios constituem os melhores desses momentos — sem a ambição de observação social nem de traçar perfis desses indivíduos.



Contudo, na brevidade dos seus 60 minutos de metragem, permanece a impressão de existir ainda muito por contar sobre um local que se estende por mais de dez quilómetros e ao qual Tréfaut dedicou cinco anos de trabalho. A CIDADE DOS MORTOS acicata a nossa curiosidade, mas não se revela como filme de promoção turística. Deseja-se apreciar o que mais esconde esta peculiar localidade, quantas outras histórias pululam entre os que optaram, ou se viram forçados, a experimentar a vida lado a lado com os túmulos de desconhecidos.

Apesar desse défice de contextualização e detalhe, encoraja-se a sua visualização. É certo que ninguém sairá desiludido.

Samuel Andrade.

Nota: este texto reflete apenas a opinião do autor, não representando a visão geral do 9500 Cineclube.

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