5/27/2010

A FÁBRICA DO CONTO DE VERÃO

Até pode parecer que só gosto de documentários e afins, e é verdade que, pela segunda vez, os documentários que encerram o ciclo que dedicámos ao Erich Rohmer me levam a puxar da caneta (em sentido figurado, claro). É também verdade que nada disse sobre os outros 15(!!!) filmes que o 9500 Cineclube já exibiu em apenas 3 meses de actividade, ou porque já os conhecia, ou porque eu próprio os propuz para exibição (alguns), ou, ainda, e não há que ter receio de o dizer, porque me interessaram menos. Embora alguns, como as praias da Agnés ou as 5 da tarde da Samira, para citar apenas dois, o justificassem plenamente.
É claro que a crescente convicção de que falta à extraordinariamente dinâmica, pelo menos até agora, programação do cineclube uma verdadeira e mais alargada participação e discussão pela parte dos sócios e de outros presumiveis interessados, me move no sentido de procurar contribuir com a minha quota parte de opinião, reflexão e, porque não, provocação. Se houver reacções, sejam elas no sentido que forem, acredito que estas contribuirão para o enriquecimento do nosso cineclube.
Devo ainda dizer que estes dois documentários permitiram, a meu ver, que o ciclo dedicado ao Rohmer fizesse total sentido. Até porque os filmes do Rohmer que conseguimos obter para exibição nem sempre foram os que desejávamos mas antes, por vezes, os que conseguimos arranjar. Mas assim o ciclo cumpriu a sua função e, porconseguinte, o cineclube também.
Posto isto, e passando finalmente ao que aqui me traz, diria que esta "Fábrica do Conto de Verão" mostra, como talvez eu nunca antes tenha visto (a não ser no próprio plateau, claro), o que é a rodagem de um filme e, consequentemente, o que é a feitura de um filme. Digo isto com algum conhecimento de causa.
Está lá a aturada preparação de cenários, luzes, equipamentos vários; os ensaios ( "repetitions" como dizem, e bem, os franceses) dos actores mas, também, da camera e do som; as preocupações com o texto e com as posições e movimentos de todos; o problema dos raccords com a maré a subir muito rapidamente. Estão lá também as pausas, as esperas quase insuportáveis, a enorme tensão, bem como as cumplicidades, os momentos de descontração e a festa. Estão lá os planos em sequência caleidoscópica que a montagem virá a ordenar.
Para mim foi também uma espécie de "reencontro" com esse Pedro Hestnes francês que é o Melvil Poupoud, actor que conheço de outros fados (maiores ou menores). Mas aqui ele aparece no seu melhor comportamento!
Mas sobretudo está lá um enorme Erich Rohmer em torno de quem tudo se move. Pense-se o que se pensar da sua obra e eu não tenho menos respeito por ela, o que se vê é um verdadeiro "animal do cinema" atento a tudo, participando em tudo (até garantindo a posterior sincronização do som com a imagem), despoletando tudo, e superiormente filmado pela sua assistente dos últimos anos como possivelmente só ela o poderia fazer. A inteligência, o sentido de humor, a sensibilidade, a competência; tudo isso está lá. E o trabalho! Muito e árduo trabalho.
E tudo isto sem que seja necessário que alguém nos explique seja o que for! Não há voz off, não há entrevistas e qualquer um percebe tudo. Vou-me repetir mas só há um adjectivo: extraordinário!
Em sinal contrário apenas uma mágoa minha; não está lá a produção! Raramente está e aqui talvez se justifique, em parte, pelo reduzidissimo tamanho da equipa. Enfim...

João da Ponte

5/21/2010

PROVAS ABONATÓRIAS

Extraordinária lição de cinema e de reflexão sobre os meios adequados a cada tipo de filme e sobre a própria história do cinema! Não sendo um dos meus realizadores preferidos, embora o considere interessante e veja a sua obra com respeito, fica claro neste documentário/entrevista de André Labarthe com Jean Douchet que Rohmer é um profundo pensador da 7ª Arte e as razões porque tem lugar incontestado entre os fundadores da "nouvelle vague", esse cinema de "autor". Foi pena a pouca afluência de público mas esta tem sido uma constante nas últimas sessões. Será actividade a mais?
É lamentável a falta de participação de tantos e tantas (incluindo membros eleitos dos corpos sociais do cineclube) que raramente ou nunca aparecem. Naturalmente que a participação é voluntária mas não posso deixar de estranhar que pessoas que se queixam do actual panorama da exibição de cinema em S. Miguel não aproveitem esta oportunidade que a criação do cineclube lhes oferece de intervir directamente propondo programações e actividades do seu interesse.
Lamentáveis também as legendas e não digo isto por serem em portugês do Brasil (um português tão legítimo quanto o nosso) mas antes por serem de fraca qualidade e rigor. Não impediram, contudo, a compreensão do filme nem servem para justificar a ausência.
Aguardando ansiosamente as próximas exibições do cineclube (o polémico "Para a minha irmã", de Catherine Breillat e "A fábrica do conto de verão", o próximo e derradeiro documentário dedicado a Rohmer) afirmo, e reafirmo, a minha convicção de que o 9500 Cineclube pode ser (e já o está a ser) um extraordinário veículo para a reflexão e debate sobre o mundo em que vivemos, que é, afinal, o papel da cultura e, portanto, também do cinema.
Até segunda, abraço

João da Ponte

rings